quinta-feira, 25 de abril de 2013


Quem são os "Mestres do Catimbó/Jurema”

O termo Mestre é de origem portuguesa, onde tinha o sentido tradicional de médico, ou segundo Câmara
Cascudo, de feiticeiro. Este é o primeiro elemento de ligação do Catimbó com tradições européias,
provavelmente caba listas e mostra também nestes dois significados a expressão semântica do trabalho do
Mestre, a cura e a magia.

De forma geral os Mestres são descritos como espíritos curadores de descendência escrava ou mestiça, que
em suma é a característica dos habitantes das regiões onde a jurema floresce, mas que não deve ser
tratado como um dogma. Dizem os juremeiros que os Mestres foram pessoas que quando em vida
trabalharam nas lavouras e possuíam conhecimentos de ervas e plantas curativas. Por outro lado algo
trágico teria acontecido e eles teriam se passado, isto é, morrido, encantando-se, podendo assim voltar a
acudir os que ficaram “neste vale de lágrimas”.

Não existe Mestre do bem ou do mal. O Mestre é uma entidade que pode fazer o bem ou o mal de acordo
com a sua conveniência, a ordem da casa e a ocasião.

A função dos Mestres e do Catimbó

Nesta generalização podemos entender muito bem o como e porque do culto do Catimbó. Em uma região
dominada pela pobreza e falta de assistência à população carece de assistência médica sendo a doença um
temor presente e terrível. Neste sentido os Mestres se apresentam como enviados para socorrer e aliviar o
sofrimento dos desasistidos oferecendo a tradição da medicina fototerápica, herdade dos índios para assistir
a população. Por outro lado em regiões de pessoas simples, mas que são submetidas a poderosos, violentos e
jagunços onde falta a justiça do homem e a única proteção que todos podem contar é a misericórdia divina,
os Mestres são como anjos vingadores que, apesar de ainda fortemente influenciados por suas manias e
imperfeições humanas, se colocam assim mesmo como protetores e defensores de gente desasistida.

Desta maneira podemos entender que os caminhos de Deus são inúmeros e que a espiritualidade se
manifesta da forma como é necessária para garantir uma vida justa e decente aos habitantes desta terra
fria. É neste contexto que o Catimbó se insere, absorvendo a tradição religiosa de gente simples e
adicionando a esta base espiritual fortemente calçada em princípios de ética, bondade e misericórdia do
cristianismo a necessidade do dias a dia introduzindo os ritos mágicos de trabalho e o trabalho dos espíritos
acostados.
Seria muito mais difícil se o Catimbó trouxesse uma doutrina religiosa própria. Na realidade seria
até mesmo impróprio ou desnecessário. Trata-se de gente muito simples que aprendeu e passou
a vida toda aprendendo só conceitos e ensinamentos católicos estando possivelmente muito
acostumados e doutrinados nesta verdadeira fé.

Mesa de Catimbó

Dentro de toda a simplicidade do Catimbó a Mesa representa a concentração de energias. Sua
representatividade está entre um altar de igreja e um gonga de Umbanda, sem, como sempre no Catimbó, se
ligar diretamente com um ou outro.

A mesa não é apenas um local de trabalho, mas o altar onde estaram os objetos litúrgicos e os
assentamentos dos mestres. Não existe um padrão e a sua organização e limpeza será tanto quanto for a do
responsável pela casa. Ela tanto pode ser um local limpo com toalha branca e poucos e bem colocados
apetrechos de representação como também um local saturado dos fundamentos da Jurema.

É na mesa que estarão representados os mestres, as cidades e os estados, através dos príncipes e
princesas. Em locais rurais onde existe terreno e espaço os mestres terão o seu assentamento em arvores ou
arbustos, geralmente de ervas que tenham ligação com o seu fundamento.

Nesta caso o Catimbó em sua essência se assemelha com o Candomblé onde, na áfrica os Orixás são
assentados nas arvores, que são chamadas de Atim do Orixá. No Catimbó é o mesmo, assim como também,
na falta de espaço e mata, o assentamento dos mestres é resolvido da mesma forma.

Nos centros urbanos, principalmente, em função da falta de espaço nos locais de culto, troncos da planta
são assentados em recipientes de barro e simbolizam as cidades dos principais Mestres das casas. Esses
troncos, juntamente com as princesas e príncipes, com imagens de santos católicos e de espíritos
afro-americanos, maracás e cachimbos constituirão as mesas de jurema. Chama-se mesa o altar ao qual são
consultados os espíritos e onde são oferecidas as obrigações.

A mesa deverá estar enfeitada com flores e velas acesas e não é excepcional se encontrar resplendores de
Igreja na mesa em função do profundo envolvimento do Catimbó com o catolicismo.

Uma mesa simples seria coberta por uma toalha bem branca que sempre deve ser mantida limpa. Sobre ela,
ao centro deve-se colocar o estado ou reino que representa o mestre da casa. À frente dela cruzados os
cachimbos de direta e esquerda do Mestre principal da casa. Atrás do estado deve ser colocada uma vela
grande que deve permanecer acesa todo o tempo bem como podem ser colocadas algumas imagens de
Santos católicos. É importante um rosário feito de lágrima de nossa senhora sobre esta mesa envolvendo esta.


A CONSAGRAÇÃO

A mesa de consagração é a cerimônia onde é apresentado publicamente o novo juremeiro e seu mestre guia. Essa cerimônia é realizada após a consagração, quando se alimenta os mestres, caboclos e toda a família espiritual do médium. A mesa consagração consiste em: uma mesa forrada do mais puro branco, grande o suficiente para acomodar os seguintes itens... Os assentamentos de direita do juremeiro ou juremeira, padrinho ou madrinha, jarra de flores brancas, incenso de rosas brancas ou de mirra, um castiçal para sete velas que ficara no centro da mesa, dois castiçais de três velas para as extremidades, no mínimo quatro pirex de vidro transparente com fumo e o respectivo cachimbinho (pode ser mais dependendo da quantidade de juremeiros que comporão a mesa), maracás, um prato branco com os fundamentos e sementes, um taça de vidro com axé, um bisturi, algodão, se as curas forem abertas em publico, e o atim, 2 licoreiras pequenas com o vinho da jurema, uma tacinha para licor. O rosário de contas, um crucifixo.
Nessa cerimônia não temos batida de tambor, todos os cânticos são acompanhados pelos maracás e palmas. É aberta a mesa com cânticos próprios e chamado o primeiro mestre a ser consagrado, segue-se os cânticos, oferece o vinho da jurema para todos os presentes, e encerra-se a reunião.
Quando existem condições financeiras do novo juremeiro no dia seguinte de faz uma festa com o toré da jurema, mas o importante já foi feito há dois dias.

Sarava a Jurema sagrada
Sarava as 7cidades mestras
Sarava o Angico e Vajucá
Sarava o Acais

Eu saúdo a jurema sagrada pedindo a ligação do céu a terra
Sarava a mestra Maria do Acais
Sarava o mestre Zezinho do Acais
Sarava o mestre Zé da Virada
Sarava o mestre Arranca Toco
Sarava o mestre Junqueiro
Sarava o mestre Zé Pelintra
Sarava todos os mestres
Sarava a mestra Tereza
Sarava a mestra Paulina
Sarava a mestra Ritinha
Sarava a mestra Luziara
Sarava todas as mestras.
Sarava o rei Malunguinho
Sarava os caboclos e caboclas
Sarava os pretos velhos
Sarava os marinheiros

Malunguinho é rei das matas
O rei das matas é o rei malunguinho
Joga as flechas no caminho pra o inimigo não passar
Malunguinho na mata ele é rei
Malunguinho na mata ele rei.
Com seu gibão de couro sua coroa de espinho
To na mesa da jurema
Eu to saldando a malunguinho
Mais ele é preto é bem pretinho
Salve a cora do rei malunguinho


Eu andei, eu andei, eu andei,
Eu andei, eu andei vou andar, (bis).

Sete anos eu andei foi em terra,
Outros sete eu andei foi no mar. (bis).
Oh Jurema Preta senhora rainha,
Abre a cidade mais a chaves é minha. (bis).

Oh Tupirarague ou Tupiraragua,
Sou filho da jurema e venho trabalhar. (bis).

Segue-se as cantigas de abertura de mesa, onde chamamos todos os mestres e inicia-se o mestre do juremado.

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